Cheguei em um momento da vida em que estou ressignificando o trabalho, e talvez, sem perceber, também esteja ressignificando a própria vida.

Essa frase surgiu na minha cabeça de forma simples, mas carregada de algo maior. Ressignificar o trabalho, no fundo, é tentar compreender o sentido do existir.

Durante muito tempo, me ensinaram que o trabalho era o eixo da vida, a medida do meu valor, o caminho para a realização, o meio de conquistar respeito e segurança. Mas percebo que há uma distorção silenciosa nisso tudo. Trabalhar passou a ser um fim, e não mais um meio. E quando o meio se transforma em fim, o sentido se perde.

A filosofia, que talvez seja apenas o hábito de pensar com calma, me fez enxergar isso. Ela me lembrou que a vida não é feita de metas, mas de percepções. Que a sabedoria não está em responder, mas em permanecer curioso. E que o trabalho, assim como a própria existência, é apenas um dos muitos caminhos possíveis de se estar no mundo.

Pensar sobre isso é incômodo. Afinal, fomos moldados para acreditar que o valor de uma pessoa está no cargo que ocupa, no quanto produz, no quanto se doa. Mas o que acontece quando o que fazemos deixa de se alinhar com o que sentimos? Quando a rotina se torna um ciclo automático, onde o fazer substitui o ser?

É aí que percebo que ressignificar o trabalho é, na verdade, um gesto de humildade diante da vida. A mesma humildade que surge quando entendemos que não controlamos nada, que a estrada é feita de acasos, de instantes e de surpresas. Talvez o verdadeiro trabalho seja esse: o de existir conscientemente.

A filosofia não serve para achar respostas, e o trabalho também não. Ambos são meios, não fins. São espaços onde aprendemos sobre nós mesmos, sobre o outro e sobre a impermanência das coisas. E quando aceitamos que não sabemos, que não dominamos, que não chegaremos a um ponto final, algo dentro de nós se acalma. A consciência de não saber é um combustível discreto: ela nos impulsiona a viver, não a entender.

Percebo que as pessoas que vivem com humildade diante da vida, não a humildade material, mas a existencial, parecem mais leves. Elas não buscam vencer, buscam estar. Não correm atrás do sentido, caminham com ele. Talvez sejam mais felizes porque aprenderam que o que realmente importa não são os fatos, mas o que sentimos em relação a eles.

O trabalho, então, volta a ocupar o seu lugar natural: o de meio para uma vida digna, não o de propósito absoluto. Ele deixa de ser prisão e se torna parte do fluxo. Assim como o ar, o tempo, a arte, a fé, ele é apenas um dos muitos movimentos que formam o viver.

Ressignificar o trabalho é, portanto, ressignificar a si mesmo. É admitir que a vida não cabe em cargos, metas ou conquistas. Que o essencial não se mede em resultados, mas em presença. E que, no fim, talvez tudo o que realmente buscamos seja a simplicidade de estar aqui, agora, inteiro, consciente e em paz com o que é.

Fim.

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